terça-feira, 29 de junho de 2010

Sete Distâncias, Sete Tempos

Observava a lua, via as estrelas e contemplava a imensidão do grande absoluto
Sabia que nada era eterno, embora tudo se refizesse com certa precisão
Quatro palavras, não as disse, pensei-las sem encontrar fôlego para expelir o som
E lá estávamos nós, com sentenças mal acabadas e entrelinhas incoerentes
Queria eu olhar nos teus olhos e dizer tudo que guardei, tudo que soube e esperei para fazer
Mas não pude, não vi, não busquei seguir uma das duas vias que me levasse a algo diferente
Somente parei, olhei, encarei a realidade com olhos incrédulos e indignos, sem nada explicar
Quem dera poder um dia, com um tanto de compreensão e sabedoria, dizer-te as minhas inconstâncias
Para tanto, entretanto, deveria eu esclarecê-las antes a mim mesmo; fazê-lo, verdadeiramente, não aprendi
Digo-te, pois, que nada posso, sendo isso fruto de fatos vindos da alma, do coração de quem reconhece não conhecer aquilo que deveria ser conhecido
Encontraria paz nos meus desejos, mas trazer-me-iam dor com a qual seria incapaz de lidar
Responda-me apenas uma vez, diga-me a razão de estarmos a dois passos de um destino inescapável
Poderias tu mudar o que fazes? Poderia eu saber quais são minhas aparências e descobrir as sete faces?
Facilmente diria-te as certezas que tenho, porquanto as dúvidas se lhes mostram muito maiores e mais avassaladoras
Uma alma que não canta, que se perdeu em meio ao seu rumo esquisito e oscilante
Canta somente quando lhe espera algo mais, quando pensa haver achado seu tesouro perdido
Logo depois, porém, descobre que vazia é a vida das coisas que a rodeiam, tão vã quanto o que lhe sobra de sobriedade
Não caberia-lhe entender mais que sua capacidade, mas insistentemente corre atrás do que não lhe pertence
Perdoe-me por não poder, perdoe-me por minha fraqueza e ingenuidade
Pensava e visualizava quadrados arredondados, quase círculos girando num mundo agitado e impreciso
Mas estes, num posterior vislumbre talvez premeditado, mostraram-se como triângulos e trapézios
Magoaram-me com suas mentiras; no entanto, pior era eu que havia dado-lhes crédito
Estúpida criatura que fui, enganada e enganadora, a quatro tempos de uma decisão quiçá errônea
Passar-se-iam mais três para clarear-me a mente confusa e obscura, mas resultado não trariam
Deixar-se-iam penetrar os cantos e partes mais profundas daquilo que nenhuma pessoa jamais teorizou
E veria eu minha queda, minha tentativa final de reconstruir os muros da cidade em cinzas pela guerra eterna
Chorei, mas não me adiantou
A dor só perseguiu e estancou, cravou-se naquela pequena parte de sabedoria esquecida
E eu perdi, não fiz o que deveria fazer
Talvez deseje mais do que posso ter, talvez imagine mundos deveras exacerbadamente coloridos 
Inexistentes, falhos e fajutos, sem qualquer fundo de realidade ou experiência contabilizada
Não existem, assim como eu também não existo em meio a eles
Sou isso que sou, aquilo que entendo não ser
Pertenço a algo que não conheço, sem parentesco ou laço agradável
Prometo-me apenas uma coisa: saberei um dia o que faço e direi a ninguém minha descoberta